A Consulta da Memória foca-se na avaliação, diagnóstico e tratamento de perturbações que determinam alterações cognitivas, nomeadamente alterações da memória.

Procura a diferenciação entre as alterações cognitivas “normais”, expectáveis de encontrar numa determinada pessoa para aquela idade e para nível acadêmico, e as alterações cognitivas patológicas constituintes do quadro clínico de patologias médicas, de patologias neurodegenerativas ou de patologias psiquiátricas. Este diagnóstico diferencial pode exigir a intervenção de diferentes especialistas que devem comunicar em modelo interdisciplinar, nomeadamente neurologista, médico internista , psiquiatra e neuropsicólogo. Neste processo de diagnóstico diferencial pode ser necessário recorrer a exames analíticos, imagiológicos ou a avaliações neuropsicológicas.

Conseguido o diagnostico correto da perturbação determinante das alterações da memória, é proposto quando necessário o tratamento correto, em modalidade de intervenção farmacológica e/ou em programa de Estimulação/Reabilitação Cognitiva em Consulta de Neuropsicologia.

A Estimulação/Reabilitação Cognitiva é uma intervenção estruturada realizada por neuropsicólogos, prescrita pelo próprio, por médico psiquiatra ou neurologista, direcionada para pacientes com Déficit Cognitivo Ligeiro, com perturbações psiquiátricas com componente cognitivo frequentemente reversível ou, no outro espectro de gravidade, com Síndromes Demenciais associadas a doenças neurodegenerativas (Demência de Alzheimer, Demência Vascular, Demência Mista, Demência Fronto-Temporal , Demência de Corpos de Lewy , Demência associada ao Parkinson ou outras).

No Deficit Cognitivo Ligeiro o paciente tem alterações da memória, da aprendizagem, da orientação ou da planificação, mas mantêm a sua capacidade funcional nas atividades de vida diárias (higiene pessoal, condução, gestão doméstica e financeira).

Esta situação clínica, embora determine sofrimento psicológico e desconforto, raramente evolui para demência (somente 10% dos DCL evoluem ao ano para demência). Há benefício em estimular as áreas em défice e as áreas integras de forma a recuperar uma performance cognitiva adequada.

 Nas demências, de Alzheimer ou outras, o paciente evolui com deterioração cognitiva que determina alterações das atividades de vida diárias, levando a uma dependência crescente pelos familiares, inicialmente em tarefas mais complexas (gestão de dinheiro, planificação doméstica, condução), e mais tarde mesmo nas atividades mais básicas (vestir-se, higiene pessoal, orientar-se espacialmente).

À medida que a demência agrava o paciente frequentemente apresenta alterações psicológicas (depressão, ansiedade, hostilidade, desconfiança, delírios ou alucinações) ou comportamentais (deambulação, inquietação, gritos, oposicionismo, agressividade, controle obsessivo dos cuidadores, ciúme, desinibição sexual, negligência de cuidados pessoais), que determinam crescente constrangimento, angústia e desconforto, do próprio e, em fases mais avançadas da doença, especialmente dos familiares.

Algumas patologias neurológicas focais (traumatismos cranianos, acidentes vasculares cerebrais, tumores, etc) com alterações cognitivas restritas, mas mesmo assim
determinantes de alteração funcional, também podem beneficiar da Estimulação/Reabilitação Cognitiva.

Também algumas perturbações psiquiátricas, como a psicose, a perturbação de hiperatividade com défice de atenção, a depressão, os distúrbios de ansiedade e as reações de ajustamento frequentemente desvalorizadas e nomeadas como “stress” e “cansaço mental”, têm um componente cognitivo na sua apresentação clínica, beneficiando da distinção clara da patologia neurodegenerativa (tranquilizando o paciente e o seu clínico) e do trabalho de reestruturação cognitiva do neuropsicólogo.

Também as situações clínicas de dor crónica, de cefaleias ou de insónia, beneficiam frequentemente de reabilitação para recuperação de défices cognitivos reversíveis.

Para além de intervenção farmacológica por médico psiquiatra ou neurologista, estes pacientes beneficiam de intervenções não farmacológicas, bem fundamentadas cientificamente, que recuperam, estabilizam ou atrasam a evolução das dificuldades cognitivas e dos sintomas comportamentais e psicológicos destes pacientes. Estas intervenções não farmacológicas podem ser aplicadas em todos os estádios da patologia, permitindo a potencialização ou mesmo a redução da prescrição de psicofármacos. Nas situações graves, controlando a psicopatologia dos pacientes, atua-se também na saúde mental dos familiares e cuidadores (mais de 50% dos familiares de doentes com demência têm depressão ou ansiedade disfuncional, provocadas pela sobrecarga emocional da difícil tarefa de cuidar).

Após uma avaliação clínica pelo médico assistente, e depois de uma avaliação neuropsicológica por neuropsicólogo, estrutura-se um plano de estimulação/reabilitação cognitiva e de modelação comportamental adaptado aos déficits e às potencialidades de cada paciente. Cada programa de intervenção é adaptado às necessidades de cada paciente e às dificuldades identificadas pelos familiares.

Este programa é precedido de uma avaliação neuropsicológica (ver Avaliação Neuropsicológica), baseada numa bateria de testes clínicos e psicométricos que determinam, de forma qualitativa e quantitativa, os défices de várias áreas de funcionamento cognitivo (memórias, raciocínio, atenção, orientação, afasias, apraxias, agnosias, planificação, capacidade visuo-espacial, juízo crítico, etc.). Nesta avaliação neuropsicológica são também avaliadas alterações emocionais, limitação nas atividades de vida diárias, o histórico socioprofissional e o padrão interpessoal com familiares e conhecidos, que condicionam a elaboração do programa de reabilitação/estimulação cognitiva.

O programa de estimulação/reabilitação cognitiva tenta estimular áreas em déficit ou, utilizando o potencial de plasticidade cerebral, utilizar domínios cognitivos de compensação ao déficit. O objetivo é aumentar ou preservar a funcionalidade do paciente, melhorando a sua vivência de controle e reduzindo vivências de angústia, para desta forma melhorar a sua qualidade de vida.

As sessões são semanais ou bissemanais, individuais ou em pequenos grupos de 3 a 5 pacientes, envolvendo os familiares na reabilitação para aferir e potencializar os resultados da intervenção ou para, quando necessário, disponibilizar sessões de Psicoeducação e de Apoio Psicológico para Cuidadores (partilhar informação sobre doença, promover estratégias de interação, manejar dificuldades psicológicas e comportamentais e reduzir impacto emocional associado ao burden/sobrecarga dos cuidados).

Estruturam-se também, com a supervisão dos cuidadores, trabalhos de casa para potencializar, no domicílio ou instituição residencial, os ganhos da reabilitação da sessão com o neuropsicólogo.

Utilizam-se metodologias diversas: técnicas de lápis e papel de estimulação/reabilitação cognitiva, recurso a software informático, terapia da validação (em que valida-se o comportamento do paciente com empatia), terapia de orientação da realidade (em que sistematicamente reorienta-se o paciente espacial, temporal, auto e alopsiquicamente/situacionalmente), terapia da reminiscência (em que estimula-se o paciente recorrendo a objetos e experiências associadas a memórias remotas), técnicas de relaxação, consciencialização corporal e de reeducação gnoso-práxica, e ainda atividades lúdicas e expressivas aplicadas à reabilitação. Valoriza-se também a vinculação terapêutica, fundamentada numa relação empática e estruturante, como ferramenta de trabalho.

Também é valorizada a articulação/aconselhamento neuropsicológico com os familiares dos doentes ou com outros cuidadores formais em contacto regular com o paciente (auxiliares de ação médica de lares, apoio domiciliário ou de centros de dia, empregadas, outros técnicos de saúde, etc.), de forma a ampliar os efeitos da intervenção em sessão.

O programa de Reabilitação/Estimulação Cognitiva pode ser aplicado isoladamente ou pode ser uma das metodologias pertencente à um programa de neuropsicologia interventiva mais amplo (Ver Avaliação Neuropsicológica e Consulta de Apoio ao Cuidador). A decisão pelo tipo de programa é discutida e decidida em modelo multidisciplinar com os médicos assistentes, psiquiatra, neurologista ou internista, de acordo com o tipo de patologia, o estádio do deficit cognitivo, o perfil de personalidade e de interesses do paciente e a disponibilidade de familiares/cuidadores.

Especialistas

Henrique Barreto (Dr.)

Neuropsicologia e Avaliação Psicológica

Nuno Goulão (Dr.)

Psiquiatria e Psicoterapia

Ana Barcelos (Dra.)

Psiquiatria e Saúde Mental Perinatal

Maria Perpétua Rocha (Dra.)

Medicina Interna e Gastroenterologia

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