DOENÇA BIPOLAR E DEPRESSÃO
A Doença Bipolar é uma doença psiquiátrica caracterizada por variações acentuadas do humor, com crises de depressão e mania. Qualquer dos dois tipos de crise pode
predominar numa mesma pessoa sendo a sua frequência e intensidade bastante variável. As crises podem ser graves, moderadas ou leves e podem ser espaçadas entre si por períodos que oscilam entre semanas, meses ou anos. Apesar dos ciclos da doença poderem apresentar padrões semelhantes nas diferentes fases, estes podem alterar-se ao longo da vida devido a circunstâncias ambientais, familiares, profissionais, emocionais ou outras que tenham impacto significativo para o indivíduo.
Na base do tratamento está a intervenção médica psiquiátrica, complementada por uma vertente psicoeducativa que forneça ferramentas adequadas para o desenvolvimento de uma compreensão e identificação das características da doença.
A psicoterapia é também um complemento importante pois vai introduzir a reflexão sobre aspetos relacionados com todo o património existencial, emocional e relacional do paciente e que podem muitas vezes ter impacto no curso da própria doença.
A Depressão é uma perturbação do estado do humor que pode condicionar a vontade, motivação, níveis de energia, capacidade cognitiva, autocuidado e relação interpessoal. É diferente da tristeza saudável, adaptativa a circunstâncias da vida. A depressão pode ainda ter uma manifestação física significativa sem que a causa seja atribuível a outras doenças, o que muitas vezes dificulta e retarda um diagnóstico correto.
O diagnóstico de uma doença Bipolar ou de uma Depressão é frequentemente o culminar de um processo de instabilidade, descontrolo e incompreensão face a um conjunto de situações perturbadoras e impactantes, sentidas em determinado período da vida de uma pessoa. No entanto, esta é também a oportunidade de se introduzir uma estratégia, um caminho, e muitas vezes a esperança de que tudo poderá vir a melhorar, alicerçada no apoio especializado e experiente de uma equipa de saúde mental. Ainda assim, a aceitação do diagnóstico pode ser ambivalente e oscilante, implicando a progressiva aquisição de estratégias para uma eficaz prevenção da recaída e consolidação de uma maior estabilidade clínica ao longo do tempo. Para que este processo funcione e possa ser mais eficaz, a participação dos pacientes e dos seus familiares, ativamente envolvidos numa articulação adequada com a equipa de saúde mental (psiquiatra, psicólogo, enfermeiro) é importante.
A dificuldade na valorização de sinais que antecipam os períodos de instabilidade nas oscilações de humor, assim como alguma incompreensão sobre os fatores de risco, desvalorização dos comportamentos protetores, inconstância na manutenção de um tratamento regular e contínuo, muitas vezes com abandono dos tratamentos em períodos eutímicos, são questões que devem ser abordadas e trabalhadas com vista a uma estabilidade mais duradoura. Estes são aspetos que a intervenção psicoterapêutica e psicoeducativa em contexto de grupo introduz e clarifica, através de uma abordagem teórico/ prática sobre a doença, acompanhada da significativa dimensão emocional e psicológica da partilha da experiência individual de cada participante, sob a moderação de terapeutas experientes no tratamento destas patologias. O paciente é incentivado a assumir a responsabilidade na gestão da sua doença, como principal interveniente e como determinante para o percurso que a doença poderá vir a ter.
Estes grupos promovem um aumento da qualidade dos cuidados percecionados, o que frequentemente melhora a relação terapêutica, acentuando o sentimento, por
parte do paciente, do seu papel ativo no seu tratamento, com aquisição de insight, fator determinante num diagnóstico como a doença bipolar, em que muitas vezes é o
abandono do tratamento uma das principais causas de recaída.
FAMILIARES DE DOENTES BIPOLARES
O envolvimento de todos (paciente e família) é aconselhado e facilitador de um melhor prognóstico. O familiar apresenta, no entanto, frequentemente, um enorme desgaste e dificuldade de gestão do apoio prestado enquanto cuidador de alguém com doença bipolar. A introdução destes grupos junto dos familiares não só os ajuda, como melhora o prognóstico do próprio paciente, pois contribui para uma melhor capacidade de comunicação dentro da família, no processo da gestão de uma doença mental que pode ter, em alguns casos, períodos bastantes desafiantes. Para além da abordagem sobre a doença, os grupos incentivam o pensar positiva e construtivamente em estratégias para ultrapassar impasses e dificuldades que podem ir surgindo ao longo do tempo, em particular durante os episódios mais críticos da doença e/ou na fase posterior de recuperação, por vezes longa e oscilante, o que motiva desgaste, frustração e exaustão em todos os envolvidos. Proporcionam um espaço promotor de expressão emocional, acompanhada de uma reflexão positiva sobre as questões que vão surgindo relacionadas com a doença e como melhor as abordar, normalizando sentimentos e experiências, e promovendo estratégias de coping adaptativas. O desenvolvimento destes grupos aborda ainda dimensões como a capacidade de tomar decisões na família, a gestão financeira e a atribuição de papéis e expectativas.
Tratando-se de uma perturbação crónica e cíclica, é importante que o familiar se inteire do diagnóstico, história natural da doença e prognóstico. Até à data, vários estudos sugerem que as intervenções familiares juntamente com o tratamento farmacológico promovem a redução de recaídas e a melhoria dos sintomas depressivos, o aumento do intervalo entre internamentos e uma maior adesão à terapêutica farmacológica. A intervenção com as famílias permite distinguir a doença da personalidade, fomentar a cooperação no tratamento, e modelar a expressão de intervenções e afetos positivos.
FUNCIONAMENTO DOS GRUPOS
Atualmente existe muita informação disponível online sobre estas patologias, mas a frequência de grupos psicoterapêuticos para pessoas com doença bipolar, depressão, ou os seus familiares, ajuda a que vejam para além do ruído digital e encontrem as ferramentas que mais se adequam à sua situação, numa linguagem clara, assertiva, empática e ajustada às suas necessidades.
O encaminhamento para a frequência destes grupos deve ser abordado junto do médico psiquiatra ou psicoterapeuta, que ajudarão a encontrar a melhor altura para dar início a este processo, quer como paciente, quer enquanto familiar.
Esta é uma experiência que implica a identificação e potencialização das necessidades individuais num contexto de reflexão, aprendizagem e definição de estratégias eficazes, que aumentem a autoestima e sentimento de capacidade de intervenção e controlo, complementados pela partilha entre os diferentes participantes, que promove a quebra de isolamento e uma certa normalização do que é sentido e experienciado, tantas vezes de forma dolorosamente solitária até aí.
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